O Clone Perfeito
Joseph era o clone perfeito. Não questionava o seu destino. Acordava todos os dias às 5:55. Não se lavava, porque na sua casa não existiam torneiras. Era magro, atlético, embora não o soubesse. O seu apartamento era espartano e os seus olhos nunca tinham visto nenhum espelho. Na cidade ideal todos se cruzavam sem verdadeiramente se olharem. Abriu o armário. Não precisava de escolher as T-shirts, todas eram exactamente da mesma cor. Possuía
5 T-shirts e 5 pares de calças. Todas cor de vinho. A única cor permitida na Cidade ideal. Não precisava lavar-se. O seu corpo era inodoro e perfeito. Não suava, não se emocionava, não chorava, não comia.
Saía de casa precisamente às 6:06. A porta do seu apartamento tinha acesso directo para a rua onde ficava a fábrica, o local onde passava todo o dia. Todos os dias de Joseph eram para trabalhar. Sabia que fazia o seu trabalho na perfeição. A perfeição exigia o controle, a mestria do tempo, do lugar, da rotina. A rotina era a pedra base do seu trabalho. Ocupava o lugar 707 na secção 7, fila 77 e exactamente às 6: 16 começava a trabalhar. era fácil o seu trabalho. Apenas tinha de colar 66 mil peças com perfeição e destreza, e como era o clone perfeito, Joseph limitava-se a fazer render essa perfeição.
Dentro da fábrica reinava a luz, a ordem, não havia conversa, nem barulho, nem interrupção. Era a fábrica ideal nº 88. A unidade de produção ideal.
Joseph era o clone mais sofisticado do seu mundo. tinha a inteligência perfeita, a mente ajustada ao seu padrão de vida. Não desejava nada. Não se afastava do seu propósito de vida nunca. Trabalhar era o seu destino.
Terminava o trabalho exactamente às 9:09 da noite. Não havia sirenes, nem confusão. Cada clone sabia exactamente a que horas terminava o seu trabalho. Cada dia , cada sessão de trabalho tinha o horário ideal.
Joseph apenas tinha de sair da fábrica, percorrer a rua e voltar a entrar no seu apartamento.
Naquele dia, como sempre, percorreu o caminho de volta a casa sem hesitação. Exactamente 202 passos. Quando chegou à porta não encontrou a ranhura para passar o seu cartão. Parou simplesmente e não ficou confuso nem se emocionou. Não teve medo. Nada. Sentiu nada. Apenas soube que o seu destino se cumprira. O clone perfeito tinha sido desactivado. Sabia o que tinha de fazer. Procurou debaixo da T-shirt, no peito do lado esquerdo. Bastava carregar nesse botão.
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