Em cada manhã encontrar a lógica essencial, a semente escondida, o aroma difuso, o cheiro a terra molhada, o canteiro florido, o vento revolvendo os teus cabelos.
Em cada encontro trocar pequenos gestos de amor, sorrisos despertos, o afago de mãe, o abraço franco de quem se quer bem, o braço que te ampara quando estás triste.
Em cada paisagem recortar uma árvore, reinventar a travessia, o deslumbramento inicial de quem se entrega de alma solta e olhar no horizonte para além do horizonte.
Em cada vibração de som descobrir a música, a modelação de cada voz humana, o ritmo interno dessa harmonia única, a fusão da pureza, da inocência, da grandiosidade, do fulgor.
Em cada momento ler as cores do mundo, manchas cromáticas, vagas aguarelas, reflexos de luz girando sobre o claro escuro do que nos cerca, anima e nos prende o olhar.
Em cada estado de alma afagar a surpresa, os prémios, os desaires, as novas conquistas , as percas, o frisson do medo e do prazer, sempre saltando de emoção em emoção.
Em cada estação liberar o que nos pesa, renovar, transgredir, ir mais além.
A vida é um presente inesgotável, um calor bom que nunca acaba, é preciso mesmo é saber viver. Acordar os sentidos, apreciar os afectos, suspender o tempo, as rotinas, os deveres.
Parar. Contemplar apenas o planar de uma gaivota, a folha que cai, a areia que escorre por entre os nossos dedos, o raio de sol,a partilha da ternura, dos estados de alma genuínos, dos doces sabores, do que tenho, do que sei, do que sou. Isso é viver.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Não quero dizer mais nada. As minhas palavras agora são pedras polidas de marfim. Suspiros apenas. Ar. Nada mais. Repito apenas para mim, baixinho, essa música, essa cantilena de outros tempos. Despertar de anjos. Almas insuspeitas que me afagam no silêncio. Alvo é o tempo. Transparente a ponte que atravesso sobre o rio do tempo. Serenidade infinda. A paz invadindo-me em crescendo.
Não te quero dizer mais nada. As minhas palavras perderam-se como ecos na planície da amargura, que acabei de atravessar. Perdi a voz, a vontade de te ir buscar. Deixa-me ir. Sair daqui e aventurar-me pelos caminhos das folhas, dentro das folhas, das sombras, dos aromas deste jardim.
Não digas nada. Sobretudo não me digas mais nada. Não é preciso. Já não te escuto, agora que ficaste para trás. Escuta-me apenas no silêncio do que nunca te cheguei a dizer.
Não te quero dizer mais nada. As minhas palavras perderam-se como ecos na planície da amargura, que acabei de atravessar. Perdi a voz, a vontade de te ir buscar. Deixa-me ir. Sair daqui e aventurar-me pelos caminhos das folhas, dentro das folhas, das sombras, dos aromas deste jardim.
Não digas nada. Sobretudo não me digas mais nada. Não é preciso. Já não te escuto, agora que ficaste para trás. Escuta-me apenas no silêncio do que nunca te cheguei a dizer.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Falling Leaves
I've read about falling leaves in fifty thousand poems novels and so on
watched leaves falling in fifty thousand movies
seen leaves fall fifty thousand times
fall drift and rot
felt their dead shush shush fifty thousand times
underfoot in my hands on my fingertips
but I'm still touched by falling leaves
especially those falling on boulevards
especially chestnut leaves
and if kids are around
if it's sunny
and I've got good news for friendship
especially if my heart doesn't ache
and I believe my love loves me
especially if it's a day I feel good about people
I'm touched by falling leaves
especially those falling on boulevards
especially chestnut leaves
Nazim Hikmet
domingo, 13 de novembro de 2011
Hino
Dar espaço, ver ao longe as amizades a brilhar
estelarmente. Movem-se, enlaçam-se os seu ritmos
e em gravitação vão abrindo um firmamento
Dar espaço, para visitação e crescimento.
Deixarmo-nos levar pela cintura magnética
às noites uns dos outros.
É por contentamento que os sinais são emitidos
por vezes de tão longe, mas logo tão presentes
que a densidade aumenta e despertam novos sóis.
Porque é muito espaçosa esta arte dos amigos:
não tocam no rebordo de uma natureza frágil
senão para curtar e afagar.
Se há um turbilhão eles não se distanciam
conhecem que é o tempo a querer desmanchar o espaço
e por isso dão-se espaço e apuram-se mais tempo.
Se há nuvens, deixam-nas passar.
Rodam bem por cima em orbitação diurna
e quando as nuvens passam estão onde amam estar.
Carlos Poças Falcão
O terramoto foi devastador.
Debaixo dos escombros quase tudo o que existia. Vontade. Criatividade. Valores. Música interna. Poesia dos Instantes. Escrita. Inspiração. Tudo enterrado.
As equipas de salvação foram chegando e fazendo o seu melhor. Conseguiram salvar o afecto.
Há catástrofes assim. Inesperadas e avassaladoras. Têm de acontecer, para nos lembrarem que somos vulneráveis, fracos, imensamente frágeis.
Depois da catástrofe há que continuar vivo. Reconstruindo. Desconstruindo, remodelando, reinventando, procurando sobreviver no meio do caos. Os maiores dramas estão sempre ocultos. Não são os que se lêem nos sismógrafos. São os que levam as pessoas mais fracas ao desespero da última fronteira.
Eu amo estar nas noites de tempestade, olhar o céu estrelado numa noite de muito calor, aventurar-me por caminhos que desconheço, ir ao teu encontro, sempre.
estelarmente. Movem-se, enlaçam-se os seu ritmos
e em gravitação vão abrindo um firmamento
Dar espaço, para visitação e crescimento.
Deixarmo-nos levar pela cintura magnética
às noites uns dos outros.
É por contentamento que os sinais são emitidos
por vezes de tão longe, mas logo tão presentes
que a densidade aumenta e despertam novos sóis.
Porque é muito espaçosa esta arte dos amigos:
não tocam no rebordo de uma natureza frágil
senão para curtar e afagar.
Se há um turbilhão eles não se distanciam
conhecem que é o tempo a querer desmanchar o espaço
e por isso dão-se espaço e apuram-se mais tempo.
Se há nuvens, deixam-nas passar.
Rodam bem por cima em orbitação diurna
e quando as nuvens passam estão onde amam estar.
Carlos Poças Falcão
O terramoto foi devastador.
Debaixo dos escombros quase tudo o que existia. Vontade. Criatividade. Valores. Música interna. Poesia dos Instantes. Escrita. Inspiração. Tudo enterrado.
As equipas de salvação foram chegando e fazendo o seu melhor. Conseguiram salvar o afecto.
Há catástrofes assim. Inesperadas e avassaladoras. Têm de acontecer, para nos lembrarem que somos vulneráveis, fracos, imensamente frágeis.
Depois da catástrofe há que continuar vivo. Reconstruindo. Desconstruindo, remodelando, reinventando, procurando sobreviver no meio do caos. Os maiores dramas estão sempre ocultos. Não são os que se lêem nos sismógrafos. São os que levam as pessoas mais fracas ao desespero da última fronteira.
Eu amo estar nas noites de tempestade, olhar o céu estrelado numa noite de muito calor, aventurar-me por caminhos que desconheço, ir ao teu encontro, sempre.
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