sexta-feira, 15 de novembro de 2013
O Clone Perfeito
Joseph era o clone perfeito. Não questionava o seu destino. Acordava todos os dias às 5:55. Não se lavava, porque na sua casa não existiam torneiras. Era magro, atlético, embora não o soubesse. O seu apartamento era espartano e os seus olhos nunca tinham visto nenhum espelho. Na cidade ideal todos se cruzavam sem verdadeiramente se olharem. Abriu o armário. Não precisava de escolher as T-shirts, todas eram exactamente da mesma cor. Possuía
5 T-shirts e 5 pares de calças. Todas cor de vinho. A única cor permitida na Cidade ideal. Não precisava lavar-se. O seu corpo era inodoro e perfeito. Não suava, não se emocionava, não chorava, não comia.
Saía de casa precisamente às 6:06. A porta do seu apartamento tinha acesso directo para a rua onde ficava a fábrica, o local onde passava todo o dia. Todos os dias de Joseph eram para trabalhar. Sabia que fazia o seu trabalho na perfeição. A perfeição exigia o controle, a mestria do tempo, do lugar, da rotina. A rotina era a pedra base do seu trabalho. Ocupava o lugar 707 na secção 7, fila 77 e exactamente às 6: 16 começava a trabalhar. era fácil o seu trabalho. Apenas tinha de colar 66 mil peças com perfeição e destreza, e como era o clone perfeito, Joseph limitava-se a fazer render essa perfeição.
Dentro da fábrica reinava a luz, a ordem, não havia conversa, nem barulho, nem interrupção. Era a fábrica ideal nº 88. A unidade de produção ideal.
Joseph era o clone mais sofisticado do seu mundo. tinha a inteligência perfeita, a mente ajustada ao seu padrão de vida. Não desejava nada. Não se afastava do seu propósito de vida nunca. Trabalhar era o seu destino.
Terminava o trabalho exactamente às 9:09 da noite. Não havia sirenes, nem confusão. Cada clone sabia exactamente a que horas terminava o seu trabalho. Cada dia , cada sessão de trabalho tinha o horário ideal.
Joseph apenas tinha de sair da fábrica, percorrer a rua e voltar a entrar no seu apartamento.
Naquele dia, como sempre, percorreu o caminho de volta a casa sem hesitação. Exactamente 202 passos. Quando chegou à porta não encontrou a ranhura para passar o seu cartão. Parou simplesmente e não ficou confuso nem se emocionou. Não teve medo. Nada. Sentiu nada. Apenas soube que o seu destino se cumprira. O clone perfeito tinha sido desactivado. Sabia o que tinha de fazer. Procurou debaixo da T-shirt, no peito do lado esquerdo. Bastava carregar nesse botão.
Joseph era o clone perfeito. Não questionava o seu destino. Acordava todos os dias às 5:55. Não se lavava, porque na sua casa não existiam torneiras. Era magro, atlético, embora não o soubesse. O seu apartamento era espartano e os seus olhos nunca tinham visto nenhum espelho. Na cidade ideal todos se cruzavam sem verdadeiramente se olharem. Abriu o armário. Não precisava de escolher as T-shirts, todas eram exactamente da mesma cor. Possuía
5 T-shirts e 5 pares de calças. Todas cor de vinho. A única cor permitida na Cidade ideal. Não precisava lavar-se. O seu corpo era inodoro e perfeito. Não suava, não se emocionava, não chorava, não comia.
Saía de casa precisamente às 6:06. A porta do seu apartamento tinha acesso directo para a rua onde ficava a fábrica, o local onde passava todo o dia. Todos os dias de Joseph eram para trabalhar. Sabia que fazia o seu trabalho na perfeição. A perfeição exigia o controle, a mestria do tempo, do lugar, da rotina. A rotina era a pedra base do seu trabalho. Ocupava o lugar 707 na secção 7, fila 77 e exactamente às 6: 16 começava a trabalhar. era fácil o seu trabalho. Apenas tinha de colar 66 mil peças com perfeição e destreza, e como era o clone perfeito, Joseph limitava-se a fazer render essa perfeição.
Dentro da fábrica reinava a luz, a ordem, não havia conversa, nem barulho, nem interrupção. Era a fábrica ideal nº 88. A unidade de produção ideal.
Joseph era o clone mais sofisticado do seu mundo. tinha a inteligência perfeita, a mente ajustada ao seu padrão de vida. Não desejava nada. Não se afastava do seu propósito de vida nunca. Trabalhar era o seu destino.
Terminava o trabalho exactamente às 9:09 da noite. Não havia sirenes, nem confusão. Cada clone sabia exactamente a que horas terminava o seu trabalho. Cada dia , cada sessão de trabalho tinha o horário ideal.
Joseph apenas tinha de sair da fábrica, percorrer a rua e voltar a entrar no seu apartamento.
Naquele dia, como sempre, percorreu o caminho de volta a casa sem hesitação. Exactamente 202 passos. Quando chegou à porta não encontrou a ranhura para passar o seu cartão. Parou simplesmente e não ficou confuso nem se emocionou. Não teve medo. Nada. Sentiu nada. Apenas soube que o seu destino se cumprira. O clone perfeito tinha sido desactivado. Sabia o que tinha de fazer. Procurou debaixo da T-shirt, no peito do lado esquerdo. Bastava carregar nesse botão.
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
"Morrer não é acabar, é a suprema manhã."
Victor Hugo
Quando acordamos há uma sensação de frustração. Voltámos do lado de lá. E temos de enfrentar um novo dia.
Há dias em que me apetece festejar a minha partida, telefonar a um amigo e anunciar-lhe que vou morrer nessa noite.
Ontem morri. Dei um enorme grito. Liberei uma enorme angustia. Saí da vida dos outros.
Acordei em paz. Suspirei e ergui-me da cama.
Percebi que tinha morrido, quando deixei de me interessar pelo que como, pelo que visto, pelo que os outros pensam de mim. Estou solta. uma existência leve, quase imaterial, deslizo por entre os outros sem falar, sem ver, sem os ouvir.
Amanhã ainda vou estar mais ausente, desligando os meus contactos. Como posso falar se já morri? Para que vou atender o telefonema? Para quê escrever se ninguém lê ?
Do outro lado do sonho, há uma lua brilhante, um corredor estreito e uma luz . Um dia destes abrirei a porta e estarei do outro lado, de vez.
Victor Hugo
Quando acordamos há uma sensação de frustração. Voltámos do lado de lá. E temos de enfrentar um novo dia.
Há dias em que me apetece festejar a minha partida, telefonar a um amigo e anunciar-lhe que vou morrer nessa noite.
Ontem morri. Dei um enorme grito. Liberei uma enorme angustia. Saí da vida dos outros.
Acordei em paz. Suspirei e ergui-me da cama.
Percebi que tinha morrido, quando deixei de me interessar pelo que como, pelo que visto, pelo que os outros pensam de mim. Estou solta. uma existência leve, quase imaterial, deslizo por entre os outros sem falar, sem ver, sem os ouvir.
Amanhã ainda vou estar mais ausente, desligando os meus contactos. Como posso falar se já morri? Para que vou atender o telefonema? Para quê escrever se ninguém lê ?
Do outro lado do sonho, há uma lua brilhante, um corredor estreito e uma luz . Um dia destes abrirei a porta e estarei do outro lado, de vez.
segunda-feira, 18 de junho de 2012
Nas entrelinhas do meu sonho
Aprendi a amar-te lentamente, adivinhando a tua chegada, antecipando a tua vinda com um sorriso.
Defini-te os contornos por entre as brumas de uma tarde de sol. Tu, sempre tu. Muito mais baixo do que tinha imaginado, muito mais imperfeito também.
Aprendi a amar-te no voo das borboletas, nos tropeções exagerados do mundo, na inconstância das minhas palavras, nos teus lábios sorridentes, no perfume do teu abraço.
Aprendi a esquecer-me dos outros , a trazer-te para dentro da água corrente, a passear contigo de braço dado nas noites sem luar.
Aprendi a esquecer-me do tempo, a abraçar-te de noite, de dia, a toda a hora. Aprendi a esquecer-me de mim para ir ao teu encontro. Aprendi a dar me, a dar-te o melhor, tudo o que não tenho e afinal vou buscar porque acredito.
Aprendi . Aprendi a gratidão , aprendi o perdão, aprendi o amor em si.
E de tanto aprender, perdi o sentido e mergulhei apenas nos teus braços, repletos da solidão da última eternidade.
Aprendi a amar-te nas entrelinhas do meu sonho.
Defini-te os contornos por entre as brumas de uma tarde de sol. Tu, sempre tu. Muito mais baixo do que tinha imaginado, muito mais imperfeito também.
Aprendi a amar-te no voo das borboletas, nos tropeções exagerados do mundo, na inconstância das minhas palavras, nos teus lábios sorridentes, no perfume do teu abraço.
Aprendi a esquecer-me dos outros , a trazer-te para dentro da água corrente, a passear contigo de braço dado nas noites sem luar.
Aprendi a esquecer-me do tempo, a abraçar-te de noite, de dia, a toda a hora. Aprendi a esquecer-me de mim para ir ao teu encontro. Aprendi a dar me, a dar-te o melhor, tudo o que não tenho e afinal vou buscar porque acredito.
Aprendi . Aprendi a gratidão , aprendi o perdão, aprendi o amor em si.
E de tanto aprender, perdi o sentido e mergulhei apenas nos teus braços, repletos da solidão da última eternidade.
Aprendi a amar-te nas entrelinhas do meu sonho.
sábado, 24 de março de 2012
"Se não conseguires fazer da tua vida o que queres,
então pelo menos tenta,
o mais que puderes; não a menosprezes
no contacto abundante com o mundo,
nas muitas acções e palavras.
...
Não a menosprezes no vaivém
frequente, expondo-a
à estupidez diária
de relações e amizades
até que se torne um fardo estranho."
Konstandinos Kavafis
então pelo menos tenta,
o mais que puderes; não a menosprezes
no contacto abundante com o mundo,
nas muitas acções e palavras.
...
Não a menosprezes no vaivém
frequente, expondo-a
à estupidez diária
de relações e amizades
até que se torne um fardo estranho."
Konstandinos Kavafis
Apenas isto
Ao ritmo das nebelinas da manhã,
Momentos obscurecidos pelo excesso
Desta minha luz, esquivamente vã,
Ao sabor da música que esqueço
Para não me ferir. Minto.
E a eternidade é apenas isto.
Momentos de graça, abraços lunares
Sono atravessado pelo pensamento.
E as minhas mãos, inúteis borboletas.
Despida a ternura do meu momento,
Barco naufragado em águas pretas
Pássaro louco sem contento,
Ao rufar do tambor imponente
Fujo, para não sofrer.
E a eternidade apenas isto.
Vislumbres de luz, torres, ruínas,
A minha face escondida num sorriso.
Ao ritmo das nebelinas da manhã,
Momentos obscurecidos pelo excesso
Desta minha luz, esquivamente vã,
Ao sabor da música que esqueço
Para não me ferir. Minto.
E a eternidade é apenas isto.
Momentos de graça, abraços lunares
Sono atravessado pelo pensamento.
E as minhas mãos, inúteis borboletas.
Despida a ternura do meu momento,
Barco naufragado em águas pretas
Pássaro louco sem contento,
Ao rufar do tambor imponente
Fujo, para não sofrer.
E a eternidade apenas isto.
Vislumbres de luz, torres, ruínas,
A minha face escondida num sorriso.
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