quarta-feira, 5 de dezembro de 2012


"A mais subtil loucura é feita da mais subtil sensatez."
Montaigne


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

"Morrer não é acabar, é a suprema manhã."
Victor Hugo

Quando acordamos há uma sensação de frustração. Voltámos do lado de lá. E temos de enfrentar um novo dia.

Há dias em que me apetece festejar a minha partida, telefonar a um amigo e anunciar-lhe que vou morrer nessa noite.

Ontem morri. Dei um enorme grito. Liberei uma enorme angustia. Saí  da vida dos outros.

Acordei em paz. Suspirei e ergui-me da cama. 

Percebi que tinha morrido, quando deixei de me interessar pelo que como, pelo que visto, pelo que os outros pensam de mim. Estou solta. uma existência leve, quase imaterial, deslizo por entre os outros sem falar, sem ver, sem os ouvir. 

Amanhã ainda vou estar mais ausente, desligando os meus contactos. Como posso falar se já morri? Para que vou atender o telefonema? Para quê escrever se ninguém lê ?

Do outro lado do sonho, há uma lua brilhante, um corredor estreito e uma luz . Um dia destes abrirei a porta e estarei do outro lado, de vez.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Nas entrelinhas do meu sonho

Aprendi a amar-te lentamente, adivinhando a tua chegada, antecipando a tua vinda com um sorriso.


Defini-te os contornos por entre as brumas de uma tarde de sol. Tu, sempre tu. Muito mais baixo do que tinha imaginado, muito mais imperfeito também.

Aprendi a amar-te no voo das borboletas, nos tropeções exagerados do mundo, na inconstância das minhas palavras, nos teus lábios sorridentes, no perfume do teu abraço.

Aprendi a esquecer-me dos outros , a trazer-te para dentro da água corrente, a passear contigo de braço dado nas noites sem luar.

Aprendi a esquecer-me do tempo, a abraçar-te de noite, de dia, a toda a hora. Aprendi a esquecer-me de mim para ir ao teu encontro. Aprendi a dar me, a dar-te o melhor, tudo o que não tenho e afinal vou buscar porque acredito.

Aprendi . Aprendi a gratidão , aprendi o perdão, aprendi o amor em si.

E de tanto aprender, perdi o sentido e mergulhei apenas nos teus braços, repletos da solidão da última eternidade.

Aprendi a amar-te nas entrelinhas do meu sonho.



sábado, 24 de março de 2012

"Se não conseguires fazer da tua vida o que queres,


então pelo menos tenta,

o mais que puderes; não a menosprezes

no contacto abundante com o mundo,

nas muitas acções e palavras.

...

Não a menosprezes no vaivém

frequente, expondo-a

à estupidez diária

de relações e amizades

até que se torne um fardo estranho."



Konstandinos Kavafis

Apenas isto




Ao ritmo das nebelinas da manhã,

Momentos obscurecidos pelo excesso

Desta minha luz, esquivamente vã,

Ao sabor da música que esqueço

Para não me ferir. Minto.



E a eternidade é apenas isto.

Momentos de graça, abraços lunares

Sono atravessado pelo pensamento.



E as minhas mãos, inúteis borboletas.

Despida a ternura do meu momento,

Barco naufragado em águas pretas

Pássaro louco sem contento,

Ao rufar do tambor imponente

Fujo, para não sofrer.



E a eternidade apenas isto.

Vislumbres de luz, torres, ruínas,

A minha face escondida num sorriso.



domingo, 5 de fevereiro de 2012

Abri os olhos e era inverno outra vez.


No horizonte bailam as árvores, sopra o vento, correm as nuvens, rápidas do lado do mar. Uma ave voa e solta um pio estridente do fundo da sua alma. Apenas uma brecha de azul no céu.pejado de nuvens cinzentas.

E eu também no Inverno da minha vida, crescendo ainda e tantas vezes abatida pela minha falta de sol.

Deixei de fugir dos espelhos. Expulsei todas as minhas dores e foi crescendo o vazio também. O pior de tudo é ir perdendo a vontade de fazer os outros felizes.

Na próxima Primavera voltarei a deslumbrar-me com as magnólias em flor, comprarei uma saia nova, mas não voltará o meu sorriso, aquele que me faz falta quando agora olho o espelho de relance. Deixei de projectar o meu futuro, tenho sono apenas.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Não sabes, mas todos os dias te escrevo. Palavra a palavra, ponto a ponto, componho o sentimento.
É sempre um desperdício o silêncio na voz de quem se ama. e ocorrem-me as tuas palavras de ouro, as que atiraste ao poço de água parada em que estou. Nada faz sentido agora que as tuas palavras se afundaram de vez. Por vezes vislumbro apenas a tua claridade, uma réstia de azul, apenas um raio reflectido numa parede.
Não sabes, mas obrigo-me a ficar alheia, a guardar para mim o que só a mim diz respeito. Escrevo-te apenas, imagino-te, recrio-te, como só eu conssigo. E as palavras saem doces ou amargas alternadamente. E as palavras libertam ou pesam invariavelmente.
E a felicidade continua a ser um óasis no deserto da vida.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Encontrei a flor dentro do perfume musical do meu corpo.


Encontrei o fumo anil navegando no mar da minha alma.

Procurei o meu jardim, a minha alma gémea, a minha irmã nesta vida.

Procurei uma razão, uma missão, uma dádiva de amor eterno.

Busquei, logrei encontrar e perdi mil vezes, mil certezas, mil sorrisos.

Fora de mim, gravitam seres que me fascinam pela sua beleza, pelo seu carisma, pela sua luz.

Dentro, bem no fundo de mim, amo, ardo, corrijo a trajectória que o Universo traçou para mim.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Errado era o convite. Tempestade em copo de água tépida em estação de Inverno.


Errado era o encontro. Tropêgo ensejo de te abraçar uma vez mais, menos vazia a rotina.

Errado foi o abraço. Sol frouxo e rabujento. Doce tormenta de passos arrastados no sótão da calçada.

Erradas foram as palavras. Veias vazias de seiva, tristemente flutuando o azul do agasalho.

Errado foi o passeio. Senda dada a anjos perdidos divagando ao nosso encontro.

Errada a companhia . Impróprio o lugar. Luminosamente verdes os reflexos sobre a mesa.

Errada a lembrança. Despropositadamente consumista de laço e papel natalício.

Errado o humor, a comida insípida, o tempo gasto. Os minutos limitados sempre com a mente noutros lugares.

Errada a despedida, seca, solta. Paragem a meio. Adeus, adeus, vai, vai.

Errada a rua, a lua, a via. Apenas estava certo o bater do meu coração.